Suposta gravura de Bandarra, datada de 1603 |
A minha ultima citação aqui no blog foi retirada de um texto deste homem cá da terra, e agora achei por bem fazer um breve texto sobre a vida deste rico/pobre sapateiro.
"Sou sapateiro, mas nobre
Com bem pouco cabedal;
E tu, triste Portugal,
Quanto mais rico, mais pobre"
Voltaria a Trancoso ainda mais pobre e onde veio a morrer em 1545, data que está inscrita no seu túmulo numa parede da Igreja de São Pedro em Trancoso, no qual se lê "Aqui jaz Gonçaliannes Bandarra natural desta Vila que profetizou a restauração deste reino, e que havia de ser no ano de seisceitos e quarente por el-rei D. João o quarto nosso Senhor, que hoje reina, faleceu na era de mil e quinhentos, e quarenta e cinco. Esta sepultura mandou fazer D. Álvaro de Abranches, e se acabou governando nela as armas de João de Saldanha de Sousa a vinte e oito de Fevereiro de mil seiscentos e quarenta e dois". Bandarra até sobre a sua própria morte escreveu:
"Em dois sítios me achareis,
Por desgraça ou por ventura:
Os ossos na sepultura,
A alma, nestes papéis."
Depois da sua morte as suas profecias foram editadas várias vezes, em vários locais de Portugal, bem como no estrangeiro. Durante a aclamação de D. João IV na Sé de Lisboa esteve um retrato do profeta Bandarra. Este pobre sapateiro profetizou em termos bíblicos o Quinto Império.
O Padre António Vieira escreve sobre este homem "Bandarra foi o verdadeiro profeta, pois profetizou e escreveu tantos anos antes tantas cousas tão exactas, tão miúdas e tão particulares, que vimos todos cumpridas com os nossos olhos".
Fernando Pessoa também escreve sobre este profeta até lhe dedica um poema no seu livro "A Mensagem", "O verdadeiro patrono do nosso país é esse sapateiro Bandarra. Abandonemos Fátima por Trancoso. (...) O Bandarra, símbolo eterno do que o povo pensa de Portugal (...) O Futuro de Portugal - que não calculo mas sei - está escrito já, para quem saiba lê-lo, nas trovas do Bandarra"
Sonhava, anónimo e disperso,
O Império por Deus mesmo visto,
Confuso como o Universo
E plebeu como Jesus Cristo.
Não foi nem santo nem herói,
Mas Deus sagrou com Seu sinal
Este, cujo coração foi
Não português mas Portugal.
Poema correspondente à parte do Bandarra,
escrita por Fernando Pessoa na Mensagem.
Outras coisas sobre o Bandarra:
Muito legal ler a estória dele! Adoro comparar as diferenças no nosso vocabulário português. Acho o máximo. Você falam "entremeta", quando aqui é "intrometa", ou ainda, "cousa" quando aqui é "coisa", rs.
ResponderEliminar-> Até a próxima oportunidade. Grande abraço.
*DB*
Isto já não se usa, no século XVI-XVII é que se escrevia assim, eu apenas me limitei a transcrecer o texto tal e qual ele está escrito.
ResponderEliminarPS: vocês brasileiros também certamente escreviam assim.
Adorei a história :)
ResponderEliminarIsto está brutal, adorei o blog :)
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